Construindo novas masculinidades para uma maior igualdade de género
Trabalhar a igualdade de género e masculinidades positivas. Semear nos jovens e homens uma nova atitude referente ao significado de ser Homem.
Trabalhar a igualdade de género e masculinidades positivas. Semear nos jovens e homens uma nova atitude referente ao significado de ser Homem. São estes os principais objetivos de uma ação de formação promovida pelo Instituto Cabo-verdiano para a Igualdade e Equidade (ICIEG), com o apoio do PNUD, que tem como alvos homens de todo o país, particularmente os jovens.
Dois dos participantes consideram que a formação teve um impacto positivo na forma de olharem para a questão da igualdade de género.
Para José Rosa de Carvalho, de Santiago, mas a residir na ilha do Maio, doravante passa a ver as pessoas e a sociedade de outra forma e a identificar sinais e comportamentos de violência baseada no género.
“Essa formação mostrou-me que às vezes se pratica violência de uma forma que quem está de fora não vê com clareza que é VBG. Passei a entender melhor o que é ser vítima e também como podemos recuperar um agressor”, reconhece o jovem, que defende o alargamento da ação a mais homens, principalmente no interior de Santiago “onde casos e evidências de masculinidades tóxicas são frequentes e considerados normais”.
Já Rony Brito, de São Vicente, diz que se tratou de uma excelente iniciativa e que sai da formação com uma excelente bagagem, pronto para transmitir conhecimento a outras pessoas.
“Mudou a minha pessoa na maneira de ver a mulher. Antes, a ideia que defendia era a de que a mulher é que tinha de cuidar do filho, lar, a roupa, agora não, sei que todos somos todos iguais.
Rony pede mais formações semelhantes nas comunidades e zonas rurais, mais campanhas publicitarias, principalmente nas rádios, mais informações para as famílias e ainda a introdução de uma disciplina sobre a igualdade de género, nas universidades e no ensino básico e secundário.
A formação beneficiou vinte e sete jovens e teve como temáticas “Género como construção Social”, “Violência Baseado no Género e Direitos Humanos”, “Paternidade e cuidado” e “Novas Formas de Masculinidade”.
“Os formandos não tinham, ao início, uma consciência sobre o género, pois tinham como referência aquilo que a sociedade ditou, tinham a sua forma de ver e entender o mundo enquanto pessoa e enquanto homem, e na perspetiva deles, homem que é homem não leva desaforo para a casa, não faz isso, não faz aquilo “, explica Paulino Moniz, facilitador da formação que segundo ele vai ajudar homens e rapazes a construírem novos modelos de masculinidade a partir da desconstrução dos modelos socialmente impostos.
Sobre os dois grupos da formação, adolescentes em instituições como das Aldeias SOS da Praia e Assomada e do Centro Orlando Pantera, e adultos, Moniz diz ter observado maior resistência à mudança e a tolerância à mudança entre os adolescentes.
Porém acredita que a formação irá permitir também que os participantes se munam de ferramentas para se auto perceberem como pessoas, como homens e como seres humanos, na perspetiva de conseguirem ver até que ponto são também vítimas do sistema patriarcal.
“Há uma enorme pressão sobre os rapazes no sentido de exercerem a sua masculinidade e as consequências disso são más”, sublinha, apontando como exemplo o facto de 97,1% por cento da população carcerária ser composta por homens e de serem eles a cometer mais homicídios e a serem vítimas da violência entre grupos.