Especialistas e investigadores de género de países africanos de língua portuguesa são unânimes em considerar que a inclusão da dimensão de género na reabertura das escolas contribuirá significativamente para diminuir as desigualdades que emergem em contexto da pandemia da COVID-19.
Para Carla Carvalho, pesquisadora no Centro de Investigação e Formação em Género e Família, Universidade de Cabo Verde, a pandemia comporta alguns riscos de desigualdades sociais, a breve e longo prazo, caso medidas não sejam postas em prática.
“Há o risco de haver aumento de abandono escolar por parte dos rapazes por causa dos papéis de género. No contexto do Covid-19 é preciso uma atenção redobrada por causa da perda do rendimento das famílias”, explica Carvalho, para quem a longo prazo, os efeitos desta pandemia implicarão e aprofundarão as desigualdades de género a nível do ensino superior e a reconfiguração do perfil de género no mercado de trabalho.
Para contornar a situação, a especialista defende o mapeamento e acompanhamento dos alunos, tanto do ponto de vista académico como social, por forma identificar e seguir os estudantes em risco de abandono.
Por sua vez, Elsa Rodrigues, da Universidade Katyavala Bwila de Angola, assevera que as escolas devem preparar os docentes para lidarem com crianças vítimas de abuso ou violência e advoga o envolvimento das famílias.
“Qualquer modelo coeducativo deve obrigatoriamente incluir os pais e famílias para que se possa eliminar conceitos de discriminação, ainda que o processo seja complexo e moroso”, sublinha.
Já Amina Issa, especialista de Género da Right to Play de Moçambique, trouxe a experiência implementada pela ONG, que apoiou o Ministério da Educação com varias iniciativas, com destaque para materiais didáticos e lúdicos com linguagem inclusiva de género e mensagens de prevenção a covid19, apoio aos professores na área de apoio psicossocial para apoiarem crianças vitimas de violência e abuso; distribuição de kits de higiene menstrual e montagem, nas escolas e colocação de dispositivos para facilitar a gestão da higiene menstrual.
Por sua vez, Marcelo Simão, especialista em planificação educativa sensível ao género, do Instituto Internacional de Planeamento da Educação, é importante considerar quatro dimensões na receção das crianças, a partir de uma perspetiva de igualdade de género, tendo em consideração as desigualdades, a inclusão da comunidade e a promoção da participação significativa das crianças, particularmente meninas e mulheres.
A aprendizagem, a promoção da saúde, a nutrição, higiene e proteção e a docência são as dimensões referidas pelo especialista.
A quinta sessão sobre o tema “dimensões de género no encerramento e reabertura de escolas”, encerra o ciclo de webinários “Juntos a responder aos desafios da COVID-19 no contexto de encerramento e reabertura de escolas nos países africanos lusófonos", uma parceria entre a UNICEF, a Comissão Nacional de Cabo Verde para a UNESCO e o Ministério da Educação de Cabo Verde, com apoio da Parceria Global para a Educação