Evento "Salvar o Planeta"
Discurso da Coordenadora Residente do Sistema das Nações Unidas em Cabo Verde
Minhas Senhoras e Meus Senhores
Caros jovens aqui presentes,
É com grande honra e entusiasmo que estou aqui para participar neste evento, que decorre dias depois do Dia Mundial do Ambiente e do Dia Mundial dos Oceanos, dois marcos importantes na nossa luta contínua pela preservação do planeta.
Gostaria desde já expressar a minha gratidão à Associação para a Defesa do Ambiente de Cabo Verde pela organização deste evento com o tema "Salvar o Planeta", marcando assim os 30 anos da convenção sobre a desertificação.
Este tema não poderia ser mais oportuno, tendo em conta a tripla crise planetária que vivemos: as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e o aumento da poluição.
Em Cabo Verde, falar da proteção do ambiente implica falar tanto do ecossistema terrestre, como, sobretudo, do marinho, considerando que o mar representa 99% do território nacional e é, portanto, vital para a sobrevivência do país.
Devemos de facto prestar atenção ao ecossistema terrestre. A degradação dos solos, o desmatamento e a perda de biodiversidade são ameaças graves que afetam diretamente a nossa capacidade de sustentar a vida no planeta.
E estas ameaças estão ligadas às mudanças climáticas. Tal como declarou o Secretario Geral das Nações Unidas – o mundo esta a produzir emissões de CO2 tão rapidamente que, se continuarmos neste ritmo, em 2030 iremos sofrer com um aumento da temperatura bem mais importante do que aquele que temos visto até agora.
Em Cabo Verde, as mudanças climáticas tem desencadeado secas. A gestão dos recursos hídricos e a desertificação são preocupações reais. Por isso, é preciso investir em práticas agrícolas sustentáveis, restaurar as áreas degradadas e proteger as florestas.
Em Lemba-Lemba, vimos que com tecnologia simples e de baixo custo é possível restaurar os solos. Agora é preciso que esta iniciativa ganhe escala para que o impacto seja maior.
A proteção do ambiente tem que incluir também o ecossistema marinho que regula o clima e abriga uma imensa biodiversidade. No entanto, os oceanos enfrentam ameaças sem precedentes: desde a poluição dos plásticos, até a sobrepesca e a acidificação dos oceanos. Precisamos escalar nossas ações urgentemente.
Mas a conservação dos recursos marinhos não é apenas uma questão ambiental, é também uma questão de sustentabilidade económica e social. Em Cabo Verde, como em muitas outras nações insulares, a pesca e o turismo são atividades estruturantes da vida socioeconómica do país que sofrem com as alterações ambientais.
Finalmente, lembremo-nos que os ecossistemas, terrestre e marinho, estão em interação...nao são dois ecossistemas isolados. O que fazemos em terra tem consequências diretas no mar. A poluição das águas costeiras, por exemplo, é o resultado de atividades terrestres inadequadas. Portanto, uma abordagem integrada e holística é essencial para a conservação ambiental.
Assim, para um futuro sustentável, eu destacaria três ideias chave:
1. Termos uma abordagem holística – que olha para a interação do meio terrestre e marinho. Isto é particularmente relevante em pequenos estados insulares, cujas zonas costeiras são essencialmente a ilha no seu todo, integrando às dimensões económica e social a necessidade da preservação do ambiente.
Isso foi exatamente o que motivou a criação de reservas mundiais da biosfera pela UNESCO. Sendo que as funções duma biosfera são:
- conservar os nossos ecossistemas naturais e culturais,
- desenvolver e promover o progresso das áreas que a compõem;
- apoiar a investigação e conhecimento, com a participação das comunidades locais.
Em Cabo Verde a UNESCO identificou em 2020 duas reservas mundiais da biosfera - a ilha do Maio e a ilha do Fogo. Devemos agora continuar a unir esforços para que essas biosferas demonstrem um impacto positivo nas comunidades locais, sabendo que as biosferas são uma oportunidade de desenvolvimento económico em harmonia com o meio ambiente, e com benefícios diretos para as comunidades locais.
2 - A educação: que deve ser um dos pilares da nossa ação. As escolas, universidades e outras instituições educacionais têm um papel crucial a desempenhar nesse sentido. Devemos promover currículos que integrem a sustentabilidade ambiental e incentivar pesquisas que tragam novas soluções para os problemas que enfrentamos.
Temos o exemplo da Rede Nacional Escola Azul iniciada em Cabo Verde em 2021. A Escola Azul procura fomentar uma cultura oceânica nas escolas para as gerações futuras, pondo ênfase no pensamento crítico e na interdisciplinaridade, assim como na ação dos alunos em prol do oceano.
Já na investigação de ponta, temos o excelente exemplo do Ocean Science Centre do Mindelo criado em 2012 que conta com a colaboração da GEOMAR, o Helmholtz Centre for Ocean Research da Alemanha, e o Instituto do Mar. Este hub de investigação tem o potencial de ser global, trazendo projetos de pesquisa para soluções inovadoras e eficazes com benefícios não só para Cabo Verde, mas também para a humanidade.
3 - A participação e a colaboração com a sociedade civil: a sociedade civil deve estar envolvida de maneira ativa, tal como já acontece em Cabo Verde. O Governo tem estabelecido metas ambiciosas e o país está a progredir por exemplo na área das energias renováveis. Mas não e só o Governo que tem um papel fundamental. A sociedade civil, o setor privado e a academia também.
Com este tema “Salvar o Planeta”, gostaria de fazer um apelo a todos: aos acadêmicos, membros da sociedade civil, representantes do governo, jovens e cidadãos em geral - devemos nos unir nessa nossa missão de salvar o planeta. O ambiente é um exemplo de que não podemos protegê-lo e interagir com o planeta de forma sustentável se cada um de nós trabalhar isoladamente. O ambiente requer a ação conjunta e coordenada de todos os atores e todos setores. Um verdadeiro djunta mon como falamos aqui em Cabo Verde.
Ao olharmos para o futuro, devemos nos comprometer a agir, AGORA, com responsabilidade e determinação. Devemos ser os guardiões e guardiãs da natureza, protegendo-a para as gerações atuais e futuras. O desafio é grande, mas com esforço coletivo e trabalho coordenado podemos transformar nossa visão de um planeta sustentável em realidade. E o tempo urge.
Juntos, podemos e vamos salvar o planeta. Nosso tempo é agora.
Muito obrigada.