Capacitar mulheres e meninas com deficiência na gestão da saúde menstrual
16 abril 2024
“As vezes consigo comprar pensos higiénicos. Quando não dá, uso pedaços de tecido. Seria de grande ajuda recebermos pensos reutilizáveis.” Patricia Sousa
Todos os dias, cerca de 800 milhões de mulheres e meninas menstruam. No entanto, para muitas, um processo biológico e natural traz consigo vários problemas. Muitas enfrentam preconceitos, exclusão e rejeição, vergonha e humilhação pois a menstruação, em muitas sociedades, é ainda vista como um tabu ou está repleta de mitos. Há ainda a falta de conhecimento sobre as transformações corporais e a pobreza menstrual que impede meninas de ir à escola por não terem acesso a produtos sanitários, ou porque as suas escolas não têm instalações sanitárias adequadas.
O cenário é ainda mais difícil quando se trata de meninas e mulheres com deficiência. Elas enfrentam desafios ainda maiores na gestão da sua menstruação de forma higiénica e com dignidade, enfrentando muitas vezes um duplo estigma devido às normas sociais em torno do género e da menstruação e por terem uma deficiência.
Para colmatar alguns desses constrangimentos, a Associação para a Promoção e Inclusão de Mulheres e Meninas com Deficiência (APIMUD) juntou-se ao Centro de Investigação e Formação em Género e Família da Universidade de Cabo Verde para capacitar cerca de duas dezenas de mulheres e meninas com deficiência, sobre a temática da dignidade menstrual. Uma formação que contou com o apoio do UNFPA- Fundo das Nações Unidas para a População.
“Foi uma formação muito impactante. Elas aprenderam sobre os cuidados que devem ter com o corpo quando tem o período menstrual, como fazer a higiene, as práticas que devem adotar. Saem da formação com conhecimentos amplos e o que vi e ouvi deixa-me muito contente por ver que elas captaram e assimilaram rapidamente os conhecimentos transmitidos.”, explica Euridice Andrade, a presidente da APIMUD.
Patrícia Sousa tem 27 anos tem uma deficiência visual. A formação ajuda-a a perceber melhor como funciona o seu corpo e considera ter sido útil que se tenha também falado dos métodos contracetivos.
“Aprendi muito com a formação, agora conheço os vários tipos de pensos higiénicos, como usá-los, como cuidar do meu corpo sempre que menstruo e tudo isso irá ajudar-me imenso. Também aprendemos sobre os métodos contracetivos, que não só nos ajudam a prevenir uma gravidez indesejada, mas também as infeções sexualmente transmissíveis. Estou muito satisfeita.”
Combater a pobreza menstrual
Porém, a pobreza menstrual é ainda o maior desafio para essas mulheres e meninas. Tanto Euridice como Patricia falam desse problema. Euridice Andrade explica que dada a incapacidade de aceder ou pagar por produtos de higiene menstrual, muitas delas ficam privadas da sua dignidade e impedidas de sair á rua por não terem pensos higiénicos.
“Em Cabo Verde os pensos não são tão baratos e para essas meninas e mulheres, que recebem uma pensão social de cerca de cinco mil escudos, a primeira prioridade é sempre a alimentação, pelo que têm dificuldades em comprar estes pensos. Muitas delas nem saem de casa, ficam inibidas, com vergonha.
Patricia conta que, às vezes, também sente essa dificuldade
“As vezes consigo comprar pensos higiénicos. Quando não dá, uso pedaços de tecido. Seria de grande ajuda recebermos pensos reutilizáveis.”
A APIMUD, por uns tempos, distribuiu pensos higiénicos recicláveis às suas associadas, mas por falta de apoios e de recursos, não deu continuidade à iniciativa. Euridice Andrade insta o Ministério da Saude a distribuir gratuitamente pensos higiénicos às mulheres que não têm recursos suficientes.
“A dignidade menstrual é uma questão de direitos humanos e deve ser para todas. Então, deve ser uma questão prioritária para o Ministério da Saúde que deve disponibilizar, gratuitamente, pensos recicláveis para estas mulheres e meninas.