Abertura da Cimeira dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
Discurso do Secretário Geral da ONU, António Guterres, durante a abertura Cimeira dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Presidente da Assembleia Geral, Excelências, senhoras e senhores,
Há oito anos, os Estados-membros se reuniram neste salão para adotar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Com o mundo a assistir - incluindo 193 jovens a segurar lâmpadas azuis de esperança - vocês fizeram uma promessa solene.
Uma promessa de construir um mundo de saúde, progresso e oportunidades para todas as pessoas.
Uma promessa de não deixar ninguém para trás.
E uma promessa de pagar por isso.
Essa não foi uma promessa feita uns aos outros como diplomatas no conforto desta sala.
Foi - sempre - uma promessa às pessoas:
- Pessoas esmagadas sob as engrenagens da pobreza.
- Pessoas a passar fome num mundo de abundância.
- Crianças que tiveram negado seu lugar numa sala de aula.
- Famílias a fugir dos conflitos, buscando uma vida melhor.
- Pais que assistem impotentes à morte de seus filhos por doenças que podem ser evitadas.
- Pessoas perdendo a esperança porque não conseguem encontrar um emprego - ou uma rede de proteção social quando precisam dela.
- Comunidades inteiras literalmente à beira da devastação por causa da mudança climática.
Portanto, os ODS não são apenas uma lista de metas.
Eles carregam as esperanças, os sonhos, os direitos e as expectativas das pessoas em todos os lugares.
E oferecem o caminho mais seguro para cumprirmos nossas obrigações de acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, agora em seu 75º ano.
No entanto, atualmente, apenas 15% das metas estão no caminho certo e o progresso de muitas delas está sendo revertido.
Em vez de não deixar ninguém para trás, corremos o risco de deixar os ODS para trás.
Portanto, Excelências, os ODS precisam de um Plano de Resgate Global.
Sinto-me profundamente encorajado pela detalhada e abrangente declaração política que está a ser discutida aqui hoje - especialmente seu compromisso de melhorar o acesso dos países em desenvolvimento ao combustível necessário para o progresso dos ODS: o financiamento.
Isso inclui um apoio claro a um Pacote de Estímulo aos ODS de pelo menos US$ 500 bilhões por ano, bem como um mecanismo eficaz de alívio da dívida que apoie suspensões de pagamento, prazos de empréstimo mais longos e taxas mais baixas.
Inclui um apelo para recapitalizar e mudar o modelo de negócios dos Bancos Multilaterais de Desenvolvimento para que eles possam alavancar massivamente o financiamento privado a taxas acessíveis para beneficiar os países em desenvolvimento.
E inclui a necessidade de reformar a arquitetura financeira internacional, que considero desatualizada, disfuncional e injusta.
Isso pode ser um divisor de águas na aceleração do progresso dos ODSs.
Tenho estado a pedir um novo momento para as instituições de Bretton Woods e o desenvolvimento de soluções práticas até a Cúpula do Futuro em setembro próximo.
Mas os países podem agir agora mesmo para colocar os ODSs nos trilhos.
Juntamente com empresas e instituições financeiras, autoridades locais, o sistema de desenvolvimento da ONU e outros, aponto um caminho, composto por iniciativas de alto impacto para apoiar seis áreas específicas em que são necessárias transições urgentes.
Primeiro - precisamos agir em relação à fome.
No nosso mundo de abundância, a fome é uma mácula chocante na humanidade e uma violação épica dos direitos humanos.
É culpa de cada um de nós o fato de milhões de pessoas estarem a passar fome nos dias de hoje.
Com base no balanço da Cimeira de Sistemas Alimentares de julho, estamos a reunir finanças, ciência, dados, inovações e apoio a políticas e governança para ajudar os países a transformar os sistemas alimentares para que todas as pessoas possam ter acesso a uma dieta saudável e nutritiva.
Segundo - a transição para a energia renovável não está a acontecer com rapidez necessária.
Estamos a apresentar novos Pactos para a Energia Renovável nos quais governos, empresas e organizações globais unem forças para investir na descarbonização dos sistemas de energia e garantir uma transição justa e equitativa dos combustíveis fósseis para a energia renovável.
Terceiro - os benefícios e as oportunidades da digitalização não estão sendo disseminados de forma suficientemente ampla.
Para acabar com essa lacuna, lançamos uma iniciativa para estimular a transformação digital em 100 países, apoiando capacidades tecnológicas mais fortes, melhor governança e financiamento inovador.
Nosso proposto Pacto Digital Global também ajudará os países a criar sistemas digitais seguros que ofereçam acesso à Internet para todas as pessoas, inclusive para estudantes de comunidades de difícil acesso.
Em quarto lugar, um número excessivo de crianças e jovens sofre com uma educação de baixa qualidade ou não recebe educação alguma.
Precisamos construir verdadeiras "sociedades de aprendizagem" ancoradas numa educação de qualidade, incluindo a educação continuada - desde cedo e ao longo da vida, eliminando a exclusão digital e apoiando os professores em todas as etapas.
Um grupo emergente de países pioneiros está a liderar o caminho para estimular o investimento e transformar os sistemas educacionais em todo o mundo.
Em quinto lugar, todas as pessoas precisam de trabalho decente e proteção social.
Trabalhar com governos e com o setor privado, para propor nosso Acelerador Global de Empregos e Proteção Social para Transições Justas, que visa criar 400 milhões de novos empregos decentes - especialmente na economia verde, nos serviços de saúde, e na economia digital - e estender a proteção social a mais de quatro bilhões de pessoas. O investimento em proteção social deve ser maciçamente aumentado.
Em sexto lugar, a guerra contra a natureza deve acabar.
Precisamos pôr fim à tripla crise global de mudança climática, poluição e perda de biodiversidade.
Estamos a formar um grupo de países campeões para analisar o que precisa ser feito para reformar as políticas económicas e colocar a natureza e a biodiversidade no centro de todas as decisões.
No centro de todas essas transições está a necessidade de garantir a igualdade total entre homens e mulheres.
Já é hora de acabar com a discriminação, garantir a plena participação de mulheres e meninas na tomada de decisões e acabar com o flagelo da violência de género.
Excelências,
A meio caminho do prazo para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os olhos do mundo estão mais uma vez voltados para vocês.
No fim de semana, jovens e grupos da sociedade civil foram à ONU - ou marcharam pelo mundo - para exigir ações urgentes.
Agora é hora de provar que vocês, líderes políticos, estão atentos a ouvir.
Nós podemos ter sucesso.
Se agirmos agora.
Se agirmos juntos.
Se mantivermos nossa promessa aos bilhões de pessoas cujas esperanças, sonhos e futuros estão nas vossas mãos.
O momento é agora, e eu lhes agradeço.