ONU Cabo Verde acciona mescanismos de respostas e ajuda humanitária após resgate de 38 sobreviventes de uma piroga
18 agosto 2023
A piroga encontrava-se à deriva há 41 dias e foi encontrada nas águas de Cabo Verde, perto da ilha do Sal.
Esta trágica história começa por sonhos que ficam pelo caminho.
Nas águas de Cabo Verde, perto da ilha do Sal, uma piroga foi resgatada por um pesqueiro de bandeira espanhola com apenas 38 sobreviventes, incluindo 4 crianças (14-17 anos), tendo sido também regatados 7 cadáveres que ainda se encontravam a bordo. De acordo com os sobreviventes, transportava inicialmente 101 pessoas a bordo, na sua maioria originários do Senegal e um da Guiné Bissau. Um total de 56 estão dadas como desaparecidas e a estimativa é de que o número de mortos chegue a 63 pessoas.
Um rota mortífera, Uma preocupação das Nações Unidas
A situação dos migrantes que optam aventurar-se perigosamente pela via marítima e em pleno Oceano Atlântico, em busca de realizar os seus sonhos, tem sido uma preocupação, tanto das Nações Unidas em Cabo Verde como das autoridades Caboverdeanas, uma vez que são vidas que se perdem à procura de novos horizonte.
Dados da Global Data Institute (GDI) da OIM falam por si e interpelam a comunidade internacional: Nomeadamente, desde 1 de Janeiro a 17 de Agosto de 2023 registaram-se no Oceano Atlântico 324 mortos/desaparecidos, excluindo o naufrágio em Cabo Verde. Já em 2022, no mesmo período registaram-se 327 mortos/desaparecidos. Números que aumentaram durante todo o ano de 2022, onde foram registados 559 mortos/desaparecidos, incluindo 22 crianças!
Segundo a OIM "A Rota da África Ocidental é muito perigosa, principalmente quando há falta de monitorização e capacidade de busca e salvamento. Isso resulta em possíveis mortes que não ficam reportadas/registadas” - um fenómeno que, a organização chama de “naufrágios invisíveis.
O que todas as rotas de migração marítima têm em comum são as milhares de pessoas que partem em jornadas arriscadas ou caem nas mãos de contrabandistas e traficantes que exploram o desespero delas.
Para a OIM é preciso uma de uma abordagem holística para essas jornadas perigosas, incluindo “busca e salvamento mais robustos, rápidos, proativos e coordenados para salvar vidas, mais acesso a canais de migração seguros e regulares expandidos para minar o modelo de negócios do contrabando e mais cooperação internacional para lidar com as razões pelas quais as pessoas se sentem forçadas a deixar suas casas e arriscar suas vidas em jornadas mortais em primeiro lugar".
Resposta das Nações Unidas
Logo de imediato as Nações Unidas em Cabo Verde, particularmente a Organização Internacional para as Migrações – OIM accionaram os mecanismos de apoio ao Governo de Cabo Verde para uma resposta humanitária. No final do dia 17 de Agosto a OIM, após receber um pedido formal da Alta Autoridade para a Imigração confirmou a ajuda através do projecto Regional EBAM "Evidence-based assistance to migrants in vulnerable situations in West and Central Africa" financiado pelo Governo da Espanha, que irá cobrir necessidades mais urgentes (alimentação, água, vestuário, lençóis, artigos de higiene.
De acordo com a OIM Cabo Verde, ainda não está finalizada a identificação completa das pessoas resgatadas, processo que está a ser conduzida pela PN e a assistência no terreno tem sido assegurada com base na sinergia de uma rede envolvendo várias instituições, ONGs e associações locais, liderada pela Proteção Civil, com a participação da Câmara Municipal do Sal (serviços da proteção civil e Ação Social), Forças Armadas (responsável pela preparação dos alimentos), Delegacia Saúde, Cruz Vermelha, Alta Autoridade para a Imigração, a Polícia Nacional e a Associação dos Imigrantes senegaleses.
O Coordenador Residente interino da ONU, David Matern garante que a Organização a par da situação e coloca-se à disposição para colaborar com as autoridades nacionais e locais. Na sua primeira declaração manifestou “ solidariedade para com as vítimas e seus familiares, assim como os sobreviventes. As Nações Unidas em Cabo Verde, e especialmente a OIM, estão a acompanhar de perto esta situação acionando os mecanismos de apoio necessários para dar as respostas adequadas que a mesma exige e estaremos a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance e mandato para dar o suporte e contribuir para minimiar o sofrimento das pessoas.”
Entretanto, a Chefe de Escritório da OIM em Cabo Verde, Quelita Gonçalves também manifestou a sua solidariedade afirmando que "É com muita tristeza que recebemos a informação de mais um naufrágio ocorrido ao largo da Ilha do Sal, Cabo Verde, segundo a Alta Autoridade para a Imigração (AAI). Graças à embarcação espanhola Zillarri, 45 migrantes puderam ser resgatados em alto mar, 150 milhas ao norte da ilha do Sal. Entre eles, 38 sobreviventes do sexo masculino, incluindo crianças (14-17 anos) foram trazidos para a costa, enquanto 7 corpos foram recuperados.”
E é com este espírito que Quelita Gonçalves junta a sua voz à da Sra Ugochi Daniels, Deputy Director General for Operations da OIM para citar que "Para cada vida preciosa perdida, há uma história de esperanças e sonhos de uma família para um futuro melhor que também pereceu no mar. Cada migrante conta, cada vida conta. Devemos acabar com isso."