Nutrir com o coração
“Se evitarmos a má nutrição na primeira infância, teremos homens e mulheres com capacidade intelectual e capazes de dar o seu contributo ao país”
Não é presidente nem formuladora de políticas. Adelaide Delgado é nutricionista no Hospital Batista de Sousa, na ilha de São Vicente e é a alma do Centro de Recuperação Nutricional para crianças, em São Vicente. A sua visão está focada na segurança alimentar das crianças que frequentam o espaço.
Trabalha no Batista de Sousa, mas diz que gerir e se ocupar do Centro de Recuperação Nutricional é “um hobbie” que a satisfaz, desde 1991, já que há situações que considera serem “muito complicadas” e para as quais não dá para não atender.
“Não digo que há crianças mal nutridas, mas temos algumas que correm o risco de insegurança alimentar. A má nutrição na primeira infância é um desastre então por isso a nossa missão principal é prevenir”, diz Adelaide. “Desde 2000 atuamos na prevenção, para que as crianças não fiquem numa situação de má nutrição. Se evitarmos a má nutrição na primeira infância, teremos homens e mulheres com capacidade intelectual e capazes de dar o seu contributo ao país”.
O Centro, que funciona no espaço do Centro Juvenil Nhô Djunga, são atendidas, diariamente, uma média de 45 crianças, mas antes da pandemia foram bem mais do que 90. São maioritariamente crianças oriundas de famílias com vulnerabilidades socio económicas
“São situações várias as que vemos aqui. Avós de trinta anos que veem ca deixar os netos porque em casa não há comida ou porque se saírem, serão as crianças mais velhas a cuidar das mais novas, correndo o risco de não ir à escola. Aqui, oferecemos o que podemos”.
O Centro, que inicialmente pertencia a Fundação Teófilo de Menezes, que foi extinta, não tem um financiador permanente, funciona graças aos apoios de amigos, conhecidos, empresas e até de familiares da própria Adelaide. Em caso de necessidades pontuais, Adelaide desenha projetos e envia para mobilização de recursos.
No espaço, as crianças têm também acompanhamento médico, e é a própria quem faz a triagem .
“Venho cá e avaliação. Se a criança precisa de algo, de alguma vacina é referenciada. Se precisam de ir às urgências, são encaminhadas”, explica a nutricionista, que também faz o trabalho de arranjar padrinhos para as crianças.
A nutricionista tem um coração enorme. Já houve tempos em que as crianças iam para a sua casa e lá ficavam por horas, outras até dormiam, porque os pais atrasavam-se em ir buscar as crianças. “Houve um que lá ficou ate hoje, porque adotei-a como filha”.
Ao concluir a conversa, Adelaide Delgado adverte para a necessidade de se passar a responsabilizar os pais e a família pelos seus atos negligentes para com as crianças.
“Precisamos de responsabilizar a família. Doi muito ver uma criança institucionalizada doi muito. Elas não querem estar nesses espaços.