Mesa Redonda “Um Ano de Pandemia da COVID-19 em Cabo Verde: lições, desafios e perspetivas”
Intervenção da Coordenadora Residente do Sistema das Nações Unidas em Cabo Verde
Senhor Primeiro Ministro de Cabo Verde, Excelência
Senhor Ministro da Saúde e da Segurança Social, Excelência
Ex.mos Embaixadores, membros do corpo diplomático e das organizações internacionais
Representantes das famílias de vítimas da COVID-19, dos recuperados, dos Profissionais de Saúde, da sociedade civil
Em nome das Nações Unidas, gostaria em primeiro lugar de agradecer o convite e saudar o Governo de Cabo Verde pelo lançamento da Plano Nacional de Vacinação contra a COVID-19. Permitam-me transmitir os sinceros sentimentos a todas as famílias em Cabo Verde que perderam um ente querido, vítima desta pandemia.
Aproveito para fazer uma saudação especial aos profissionais de saúde, a todos os trabalhadores essenciais e aqueles que diariamente lutam para prestar a informação correta, e combater a desinformação, em si uma segunda epidemia.
A crise COVID-19 continua a testar todos os países e regiões do mundo. Ceifou mais de 2,5 milhões de vidas, empurrou centenas de milhões para a pobreza, ameaçou décadas de progresso e está a minar os nossos planos coletivos de concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Os que ficaram para trás estão a ser deixados ainda mais para trás.
Desde o primeiro momento as Nações Unidas lançaram um apelo global para respostas concertadas ao nível ao nível da saúde, no plano humanitário, social e económico – a maior mobilização global para tornar os testes, diagnósticos e vacinas acessíveis e disponíveis para todos, para recuperar melhor, e colocar um enfoque especial nas necessidades daqueles que mais suportam o fardo da maior crise pós 1945.
No continente africano, vários países avançaram com uma resposta assertiva e coordenada que salvou milhões de vidas. No entanto, apesar destas medidas, cerca de 100.000 africanos morreram devido ao vírus, e hoje África enfrenta a sua primeira recessão em 25 anos.
Cabo Verde foi um dos primeiros países no mundo a tomar todas as precauções necessárias para proteger a saúde da população, estabilizar o emprego, assegurar o rendimento das famílias, reforçar a segurança alimentar, e fornecer cuidados aos mais isolados, não obstante estar entre os países que estão a sofrer maior impacto desta crise, exacerbada por fatores endógenos aos pequenos estados insulares.
Três reflexões sobre ensinamentos e oportunidades para uma recuperação mais forte:
Primeiro, esta pandemia foi um despertar para o mundo que nos rodeia, os nossos comportamentos e a interdependência com o planeta. Chegou a altura de fazer as pazes com a natureza e lutar pela saúde ambiental. Não podemos aspirar a uma recuperação transformadora se não tomarmos ações urgentes para alcançar os objetivos do Acordo de Paris sobre as alterações climáticas e reduzir os riscos de futuras crises. Isto significa desenvolver um modelo económico justo que abrace as energias renováveis; infraestrutura verde e resiliente; digitalização inclusiva e proteger os recursos naturais.
Segundo, a importância em todo o mundo de investir nas chamadas “ameaças paralelas”. O COVID-19 mesmo nos países chamados mais desenvolvidos, paralisou sistemas de saúde; fez com que as pequenas empresas encerrassem; manteve mais de 800 de alunos fora da escola; quebrou as cadeias de valor globais e o fornecimento do comércio mundial; e empurrou mais de 100 milhões de volta para a pobreza extrema.
Os mais pobres, os trabalhadores informais, as mulheres, idosos, pessoas com deficiência, migrantes e crianças foram afetadas desproporcionalmente. Assistimos a um aumento inaceitável da violência contra mulheres e crianças. As ameaças das múltiplas desigualdades foram acentuadas mostrando a fragilidade de conquistas que muitos davam por adquiridas.
Urge repensar as políticas publicas centradas na dignidade da pessoa humana, na segurança humana integral, com mais investimento na saúde, educação, proteção social e inclusão económica. Em Cabo Verde, a aposta no desenvolvimento do capital humano está a ser feita e deve ser sustentada.
Terceiro, a importância de respostas e solidariedade global para desafios mundiais. A iniciativa COVAX e uma resposta multilateral e o nosso mecanismo para assegurar o acesso equitativo a soluções para salvar vidas.
Ao nível global, o Secretário-Geral das NU continua a apelar a uma abordagem internacional ousada e coordenada sobre os esforços de redução da dívida para os países africanos; para um aumento significativo do apoio financeiro para assegurar a liquidez; e para um alinhamento das finanças globais com os objetivos de desenvolvimento sustentável.
E importante que nos países também reforcemos o trabalho conjunto e coordenemos esforços. Logo no início da pandemia, em Marco de 2020, o Governo de Cabo Verde com o apoio das Nações Unidas e outros parceiros internacionais, estabeleceu uma plataforma multissectorial de coordenação da resposta a crise. Governo e parceiros analisaram o impacto socio económico, reprogramaram ações e estamos a finalizar o Plano de Resposta e Promoção da Economia, alinhado as grandes prioridades da Ambição 2030. Foi um esforço louvável para otimizar recursos e alinhar estratégias de apoio aos efeitos da crise.
Numa altura em que vemos a luz ao fundo do túnel, em que é lançado o plano nacional de vacinação, este e o momento para reforçar mecanismos de diálogo e coordenação de parcerias no quadro de um financiamento nacional integrado com todos os parceiros.
Nas Nações Unidas acreditamos que o todo e muito mais do que a soma das partes e que todos os desafios podem ser superados com a união! Continuamos o nosso compromisso total com Cabo Verde para o desenvolvimento sustentável.
Obrigada